Mãe
- Ana Paula Maciel Vilela

- Dec 5, 2020
- 1 min read

Foto Unsplash Kristine Cinate @kristine_cinate
Para ela ligo todos os dias.
Antes o fazia em dias alternados.
Tinha receio de que minha voz pudesse cansá-la.
Em tempos de quarentena ligo todos os dias,
Antes das três para lembrá-la do filme da sessão da tarde, ou
Após as quatro e trinta, horário em que muitas vezes está sozinha, quando a acompanhante já se foi.
Ligo para tentar preencher seu dia com minhas histórias.
Conto um pouco tudo o que fiz e senti com aquele fato narrado,
Busco despertar lembranças, histórias que ela também conta.
A gente ri. Fica leve. Fica tão bom!
Eu quase sempre choro apertado quando vejo que aquela ligação acabou.
Mais um dia.
Ela agradece, sempre, a ligação.
Minha avó, sua mãe, fazia o mesmo quando eu ligava.
Acho que se sente agradecida por ter me lembrado dela,
Por ter gastado alguns poucos minutos para mostrar a ela que é lembrada,
Querida,
Amada.
Mãe, quem agradece,
Sou eu.
Hoje, todos os dias,
E no dia depois de depois daquele último dia.



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