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Transmutação

  • Writer: Ana Paula Maciel Vilela
    Ana Paula Maciel Vilela
  • Dec 17, 2022
  • 2 min read



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Imagem Unsplash por Christophe R.


Ouvi falar. Depois de meses, experimentei. O desejo de voltar a fazer pão cresceu assim, pelo sabor que ficou na minha memória do primeiro encontro do clube de leitura que participei na casa amarela.

Claro, tinha outras receitas, mas a que eu queria era aquela, a dela, que misturava os ingredientes fazendo poesia com os gestos, com a farinha, o fermento, a cor amarelo ouro do óleo derramado ali, na cova escavada com as mãos, a água se misturando ao processo, aos poucos, cautelosa em não ser demais.

Com minha habitual timidez ousei pedir a receita. Anotaria tudo e no final de semana faria da cozinha o meu recanto poético.

Enviei a mensagem despretensiosa porque, imaginei, não seria tão fácil assim. Talvez fosse uma receita de família, daquelas passadas de geração a geração, quem sabe de forma oral, e, podia ser que ela não quisesse compartilhar esta que veio do outro lado do mundo. Enquanto esperava criei histórias e suposições para a provável negativa.

Alguns minutos depois chegou a mensagem de que me responderia no privado. Esperava receber a receita escrita, fotografada de algum caderno, talvez manchado com pingos de ovos e farinha, bastante manuseado.

Minha surpresa foi ela listar os ingredientes, perguntar se eu disponibilizava de todos eles e me convidar a ir para cozinha. Ela não passaria a receita, queria fazer comigo, me ver juntando os ingredientes, corrigir o ponto da massa, ver cada etapa.

Escritora conhecida, a quem cheguei através de um livro adquirido pelo título e descrição e que, desde então, deixara meus instantes de leitura mais leves com sua poesia que extrai da natureza sua essência e que sua alma de poeta alcança. E assim, conheci Roseana Murray e, muitos livros depois e inúmeros e-books disponibilizados gratuitamente no site, de leitora a ser convidada a participar do Clube de Leitura da Casa Amarela foi um processo longo. Sonhava em como deveria ser participar do clube e a pandemia de covid 19 propiciou a mim a oportunidade com o início de encontros online.

Separei os ingredientes o mais rápido que pude e fomos as duas para cozinha. A sensação foi maravilhosa porque nunca havia imaginado preparar com ela o pão, de uma maneira tão inusitada e, entre uma etapa e outra, o crescer da massa, moldar, aquecer o forno, ir na horta apanhar alecrim fresco e levar o pão a assar, as chamadas de vídeo eram interrompidas e retornadas. Foi uma tarde muito especial para mim.

Sem palavras adequadas para agradecer o ato de extrema disponibilidade e amabilidade dela em compartilhar comigo a receita, enviei fotos do pão, lindo, regado com azeite, sal grosso salpicado e aromatizado com folhas frescas de alecrim.

O aroma em minha cozinha se espalhou pela casa e saiu pelas janelas, pura poesia que transmutou em pão os ingredientes. Em mim, pensamentos, sentimentos e regozijo se tornaram puro deleite.

O “Pão Roseana” tem sabor, cheiro e gosto de doação e poesia.


 
 
 

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